Recentemente li um artigo do Portal Endeavor com uma lista dos melhores livros para empreendedores. Gostei do título e a descrição do livro “O Lado Difícil das Situações Difíceis”, escrito por um americano chamado Ben Horowitz. Foi um dos livros mais sinceros e cheio de insights que li sobre negócios.
O autor passou por situações realmente complexas ao longo da sua carreira como empreendedor, com “altos e baixos” importantes. Abriu uma empresa de TI em 1999 chamada Loudcloud, que depois se tornou a Opsware, teve que passar pela crise da bolha pontocom em 2000, contratar e demitir muita gente e quase faliu, várias vezes. O importante é que ele aprendeu com os fracassos e escreveu um livro contendo lições valiosas.
Participo do programa Algar Ventures Open, um programa de aceleração da Algar Ventures em parceria com a Endeavor, e em um dos encontros estávamos eu e outro empreendedor, que (também) deve ter passado por diversos desafios, trocando sugestões sobre livros. Lembramo-nos então de um capítulo do livro do Horowitz que nos marcou muito. Fez pensar sobre como alguém pode traduzir tão bem o sentimento pelo qual todos os empreendedores com anos de bagagem passam, não raro, diversas vezes.
A sessão do capítulo 4 que nos marcou é intitulada “A Luta” (The Struggle, em inglês).
FALA, BASICAMENTE, SOBRE O ESTADO PECULIAR EM QUE NOS ENCONTRAMOS NAQUELE MOMENTO EM QUE TUDO ESTÁ TÃO RUIM QUE O ÚNICO SENTIMENTO QUE TEMOS É QUE TUDO VAI DEFINITIVAMENTE POR ÁGUA ABAIXO.
Tende a funcionar assim para todo mundo: você inicia seu negócio, ou melhor, sua “startup”, com a expectativa de tornar o mundo um lugar melhor, criar um modelo de negócios disruptivo diferente de todos os outros do setor, transformando a vida dos stakeholders da empresa — não se esquecendo de ganhar bastante dinheiro ao longo do processo. Pinta a parede da sala de reuniões com uma cor descolada, compra uma máquina de café Nespresso e investe num logo em letra caixa para causar uma excelente primeira impressão aos visitantes.
MAS, UM TEMPO DEPOIS, A PROGRAMAÇÃO COMEÇA A SAIR DO TRILHO E NÃO CONSEGUIMOS NEM LEMBRAR COMO ERA AQUELE SENTIMENTO DE FELICIDADE DO INÍCIO.
Como o próprio Ben Horowitz conta, você subitamente percebe que o produto não é assim perfeito como achava, o mercado não reagiu tão bem, as metas não são batidas, a economia está com problemas. Você fica sem caixa e, de repente, se encontra no estado de “Luta” (the Struggle).
Esse é o momento em que você se questiona por que abriu o negócio, sua mãe lhe pergunta por que ainda insiste em fazer isso e você não sabe a resposta, tem ódio das decisões que tomou no passado. É a terra dos “corações partidos”, entre outros requintes de crueldade, muito familiares a quem já esteve por lá.
MAS O IMPORTANTE É QUE O ESTADO É DE LUTA, NÃO É FRACASSO. AINDA NÃO. SÓ SERÁ FRACASSO SE FORMOS FRACOS E DESISTIRMOS. SE FORMOS FORTES, SAIREMOS MELHORES DO OUTRO LADO.
Uma das ideias que considerei geniais no livro (além da evidente honestidade do autor) foi o fato de dar dicas bastante táticas sobre os diversos momentos do empreendedor. Por exemplo, realmente funciona compartilhar com a equipe o momento pelo qual a sua empresa está passando — acredite, os colaboradores não vão desistir e muitas vezes vão se engajar mais ainda.
Além disso, há sempre uma próxima jogada. O autor explica esse raciocínio, demonstrando que
O “JOGO” NÃO É DE DAMA, MAS SIM DE XADREZ EM TRÊS DIMENSÕES. OU SEJA, É COMPLEXO, LONGO E NÃO SE RESOLVE ATRAVÉS DE POUCAS DECISÕES. HÁ SEMPRE UMA PRÓXIMA JOGADA, MESMO QUE ELA NÃO SEJA ÓBVIA.
Aliás, raiva, tristeza e pena de si mesmo vão, no mínimo, piorar as suas decisões e deixá-lo mais longe de solucionar seus problemas. Também não ponha a culpa em fatores externos, no governo, no mercado ou nos outros. Terceirizar a responsabilidade não ajuda em nada e o torna mais impotente diante da situação.
Quando transcender o estado de luta, vai perceber que você possui mais da matéria que compõe os grandes líderes, vai encarar situações mais críticas sem se deixar abalar muito e lembrar-se cada vez mais que sempre há uma perspectiva diferente. Passar pela luta diferencia os “homens dos meninos”.
É fundamental manter-se focado, trabalhar muito e usar sua criatividade para buscar saídas. Você não está sozinho, todos os grandes já passaram pela mesma situação, e prevaleceram.
Spoiler Alert! Ben Horowitz passou por todas as dificuldades citadas e no final foi muitíssimo bem-sucedido. Ele conseguiu abrir capital da empresa em um momento de descrédito total no setor de tecnologia e, depois de alguns anos, vendeu a empresa por mais de US$ 1,6 bilhão para a HP. Criou um fundo de Venture Capital chamado Andreessen Horowitz, um dos mais ativos hoje nos Estados Unidos, com participação em empresas como Airbnb, Facebook, Skype e outras de muita projeção.
Vale a pena ler o livro todo, pois, além de ser uma leitura extremamente fluida e com outros insights, trata também de fases positivas e conta a história da empresa desde o início até o momento da venda.
A principal lição é que devemos sempre carregar conosco a capacidade de resiliência. Acredite, esses momentos podem demorar, mas passam e o tornam mais competente. Portanto, aconteça o que acontecer, nunca, nunca mesmo, desista. Lembre-se que, se você perseverar, poderá ter o privilégio de realizar os sonhos que carrega desde o começo.